Entorse de tornozelo e principais mecanismos traumáticos

Introdução

Sabemos que as entorses de tornozelo são lesões muito comuns e frequentes, tanto na prática de atividade físicas quanto no dia à dia, ou seja, ninguém está livre de um dia passar por tal condição. Neste post estaremos estudando ps principais mecanismos traumáticos das entorses de tornozelo, porém, antes de iniciarmos esse estudo, é necessário relembrarmos algumas coisas.

Em primeiro lugar, devemos relembrar que toda a entorse é caracterizada por lesão ligamentar, e, como os ligamentos são as estruturas responsáveis pela estabilidade articular, a principal consequência a qualquer tipo de entorse vai ser sempre a perda de estabilidade total ou parcial de uma determinada articulação ou complexo articular.

Ilustração do complexo articular em vista medial
Fonte: Fisiologia articular do Kapanji

Outro fato importante a ser retomado é o conhecimento das classificações das lesões ligamentares ou entorses, que vai variar de acordo com o grau de comprometimento do ligamento, podendo ser classificada então em:

  • Entorse grau I: Quando há um estiramento ou esgarçamento ligamentar, porém sem ruptura aparente. É o tipo mais leve de lesão ligamentar e tratada de forma conservadora através da estimulação e fortalecimento da musculatura estabilizadora da articulação comprometida.
  • Entorse grau II: Nas entorses do tipo grau II, diferente da anterior, a lesão é mais importante, havendo ruptura parcial transversal do ligamento. Dentro das entorses do tipo grau II, pode-se ter uma ruptura parcial pequena e pouco significativa clinicamente, indicando um bom prognóstico e tratamento conservador, ou uma ruptura parcial significativa, quase completa, indicando um pior prognóstico e, normalmente, respeitando as individualidade e custo benefício para o paciente, indicação cirúrgica.
  • Entorse grau III: Nas entorses de grau III ocorre a lesão transversal completa do ligamento comprometido. Esse tipo de entorse é o de pior prognóstico e que gera maior grau de instabilidade, sendo, desta forma, quase sempre de indicação cirúrgica (respeitando as individualidades do paciente e o custo benefício da cirurgia e processo de reabilitação pós cirúrgico).

Complexo articular do tornozelo e suas características

Ao estudarmos o tornozelo, percebemos que assim como o joelho e o ombro, não se trata de uma articulação, mas sim de um complexo articular formado por duas importantes articulações móveis com características morfológicas e funcionais distintas.

Imagem ilustrativa da articulação tibio-talar

Quando estudamos o complexo articular do tornozelo, a primeira coisa que nos vem a cabeça é a articulação entre o tálus e a pinça maleolar, onde se articula com a face articular do tálus na tíbia. Porém, a articulação tíbio-talar é uma das articulações do complexo, que também vai ser formado pela articulação entre o tálus e o calcâneo, denominada articulação subtalar.

Características da articulação tíbio-talar

A articulação tíbio-talar é, como vimos, a articulação do tálus na pinça maleolar. Devido a presença dos maléolos lateralmente e medialmente, o tálus realiza movimentos na pinça maleolar apenas no plano sagital. Desta forma, podemos afirmar que os movimentos que acontecem na articulação tíbio-talar são os movimentos de flexão plantar e flexão dorsal.

Quando observamos o tálus em vista superior, percebemos que o mesmo tem um formato triangular, possuindo a base ou porção mais alargada anteriormente e o ápice ou porção mais estreita posteriormente. Desta forma, durante os movimentos de flexão plantar, a base do tálus sai da pinça maleolar anteriormente, o que deixa maior folga inter-articular. Desta forma, dizemos que a posição de ajuste frouxo do tornozelo é em plantflexão, logo, essa posição é a de maior instabilidade articular e, por isso, está relacionada a maior prevalência de entorses de tornozelo.

Vista superior dos ossos do pé para observação do formato do Tálus
Fonte: Netter

Características da articulação subtalar

Como foi visto anteriormente, a articulação subtalar é a articulação entre o tálus e o calcâneo. Essa é a outra articulação que, juntamente com a articulação tíbio-talar, compõem o complexo articular do tornozelo. Porém, diferente da articulação tíbio-talar que é responsável pelos movimentos de flexão plantar e flexão dorsal, na articulação subtalar acontecem os movimentos de inversão e eversão do tornozelo.

Imagens do tornozelo e estruturas ligamentares
Fonte: Netter

Podemos dizer que os movimentos de inversão (pé para dentro) e eversão (pé para fora) são movimentos acessórios ou auxiliares dos movimentos de flexão plantar e flexão dorsal. Porém, a pesar de parecer menos importante, a mobilidade subtalar também é extremamente importante para a biomecânica do joelho, pois durante os movimentos de rotação com flexão de joelho, a mobilidade subtalar acessora e facilita esses movimentos, reduzindo a tensão principalmente sobre o ligamento cruzado anterior.

Ilustração da relação joelho – tornozelo
Fonte: Fisiologia articular do Kapanji

Mecanismos traumáticos das lesões de tornozelo

Devido as características morfológicas e biomecânicas do complexo articular do tornozelo, e, conhecendo a posição de ajuste frouxo do tornozelo como sendo a posição de flexão plantar com inversão, podemos afirmar que o principal mecanismo traumático das entorses de tornozelo é em plantflexão com inversão associado a descarga de peso.

Esse tipo de lesão é muito comum em atletas e praticantes de basquete e de vôlei, pois, muitas vezes quando saltam, durante a decida podem pisar no pé de outro atleta e em posição de ajuste frouxo, o que propicia maior índice de lesão. No basquete, ainda é mais frequente pois os atletas trabalham muito as variações de direção durante a corrida para os dribles, o que pode favorecer mais ainda o aparecimento de entorses.

Ilustração da mobilidade de tornozelo
Fonte: Kapanji