Introdução:

Hematose é o nome que se dá a troca gasosa que acontece entre os capilares pulmonares alveolares e os alvéolos, no que chamamos de unidade respiratória ou membrana alvéolo capilar. Quando falamos de hematose, estamos falando da respiração propriamente dita, pois trata-se do processo de captação de oxigênio e eliminação de gás carbônico que acontece nas unidades respiratórias dos pulmões.

Imagem ilustrativa da unidade respiratória

Para que aconteça o processo de hematose de forma eficiente, é necessária que haja constante troca do ar intra pulmonar, processo este denominado ventilação. A partir do momento que a ventilação é adequada, o ar chega aos alvéolos com concentrações de gases diferentes, o que possibilita a troca (hematose). Porém, algumas patologias ou reações alérgicas podem dificultar a chegada de ar nas unidades respiratórias (alvéolos), comprometendo o processo de troca.

Imagem ilustrativa de alteração com broncoespasmo, dificultando a chegada de ar na unidade respiratória e consequentemente, a hematose.

Hematose X Respiração celular

A hematose e a respiração celular são processos semelhantes, porém que acontecem em extremidades diferentes do sistema circulatório. A hematose nada mais é do que a troca de gases entre alvéolo e capilar alveolar a nível pulmonar, com o objetivo de realizar a captação de oxigênio para a circulação sanguínea e consequente eliminação de gás carbônico. Já a respiração celular é o que acontece na outra extremidade, entre os capilares sanguíneos e os demais tecidos, onde o objetivo é entregar oxigênio aos tecidos e retirar gás carbônico dos mesmos. Ambos são processos de troca, então, de respiração, porém a que acontece a nível alveolar recebe nome específico de hematose devido a sua importância, uma vez que todos os demais processos de respiração dependem desta captação alvéolo capilar.

Imagem ilustrativa da transição entre sistema arterial e sistema venoso, demonstrando os capilares e suas transição de acordo com as concentrações de gases. Nestes pontos ocorrem os processos de respiração celular com os diversos tipos de tecidos.

Determinantes de troca (respiração)

Para que haja troca eficiente, alguns fatores são determinantes para a troca entre alvéolo e capilar (hematose), assim como para a troca entre capilares e tecidos ou células dos tecidos (respiração celular). São fatores determinantes para a troca gasosa:

  • Contato físico
  • Permeabilidade de membrana
  • Diferença de pressão / concentração
Representação da membrana alvéolo capilar e área de troca (hematose)

Contato físico:

Nem todo ar que entra no sistema respiratório, consegue chegar as áreas de troca. Parte deste ar fica na porção de condução do sistema respiratório, que por isso também é denominada “espaço morto anatômico”. Porém, mesmo o ar que chega aos alvéolos, não tem a garantia de que vai fazer troca, pois depende dos outros determinantes de troca. Desta forma, parte dos alvéolos, mesmo recebendo um volume de ar renovado, em uma determinada incursão (ciclo ventilatório), pode não entrar em contato com nenhum capilar, o que impossibilita o processo de troca. Quando esse número de alvéolos que não entra em contato com capilar em em um determinado ciclo ventilatório é de até 5%, esse fato é chamado de shunt fisiológico, porém, quando os valores ultrapassam os 5%, passa a comprometer o processo de troca/hematose, sendo então denominado shunt patológico.

Permeabilidade de membrana:

A permeabilidade de membrana também é fator essencial para uma boa troca gasosa. Desta forma, quanto maior for a permeabilidade, mais facilitada é a troca.

Em algumas patologias crônicas, como o enfisema pulmonar e as doenças pulmonares obstrutivas crônicas (DPOC), ocorre, com o passar do tempo e de acordo com as sucessivas lesões de membrana por diferentes mecanismos, um processo de fibrose de membrana alvéolo capilar e consequente espessamento da mesma. Desta forma, esses pacientes que tem espessamento de membrana e dificuldade de troca, compensam ou tentam compensar esta falha através de processo de hiperventilação, onde os alvéolos são levados a trabalhar com pressões elevadas com o objetivo de tornar a membrana mais delgada, facilitando a troca e compensando a falha.

OBS: Os processos de DPOC são crônicos, como e próprio nome já sugere, são evolutivos. A evolução desses processos é a insuficiência respiratória, que ocorre quando o sistema não consegue mais compensar a falha e consequentemente, começa a faltar oxigênio para os tecidos. Trata-se de um caminho sem volta, que pode ser amenizado com terapias, porém, não tem cura e o prognóstico é ruim.

Diferença de Pressão:

Qualquer processo de troca ocorre sempre por diferença. Quando falamos de trocas iônicas, as mesmas ocorrem por diferença de concentração entre os dois lados da membrana, mas quando falamos de troca gasosa, como o caso da hematose, as trocas ocorrem por diferença de pressão de gases entre os dois lados da membrana. Neste sentido, o processo de ventilação é crucial para que, com a renovação do ar alveolar, haja sempre diferença de pressão possibilitando as trocas gasosas.

Imagem ilustrativa das macro estruturas do sistema respiratório X Unidade respiratória

Quando ao ar chega aos alvéolos, em condições normais, chega com uma pressão aproximada de 104mmHg, e encontram um capilar venoso com pressão de O2 de aproximadamente 40mmHg. Desta forma, ocorre a passagem de O2 dos alvéolos para os capilares. Já a pressão de CO2 no alvéolo é de aproximadamente 40mmHg, enquanto a pressão de CO2 nos capilares é de aproximadamente 45mmHg, havendo então a passagem de CO2 dos capilares para os alvéolos.

Quando esses processos acontecem naturalmente, respeitando os determinantes de troca gasosa, chamamos esses processo fisiológico de HEMATOSE.