A fáscia formada por tecido conjuntivo fibroso é responsável por conectar mecanicamente todas as peças anatômicas, permitindo que tudo esteja ligado em continuidade onde os tensionamentos impostos sobre os tecidos irão repercutir em todo o conjunto, sendo assim podemos considerar o sistema miofascial  um conjunto indissociável onde o tecido conjuntivo fibroso (elemento elástico) é responsável por transmitir e distribuir as tensões realizadas pelo  tecido muscular (elemento motor)  por meio de diversos tipos de movimentos. ( Bienfait, 1999)

Ao  considerar a fáscia como um tecido conjuntivo intramuscular podemos entender que cada contração muscular mobiliza o sistema fascial e cada restrição do sistema fascial afeta o funcionamento correto do sistema muscular.(Bienfait, 1999) 

Uma breve revisão sobre os componentes que constituem o tecido conjuntivo fibroso é imprescindível para  a compreensão da importância do tecido fascial na unidade funcional conhecida como  sistema miofascial. 

Constituição do tecido conjuntivo:  

– Fibroblastos: células conjuntivas responsáveis pela secreção das proteínas de constituição do tecido conjuntivo –  colágeno e elastina;

–  Colágeno: trama protéica que não se deforma responsável pela rigidez do tecido;

– Elastina: trama protéica que se deforma e absorve as forças tensionais impostas ao tecido;

– Substância Fundamental: líquido lacunar que preenche os espaços entre as células conjuntivas, seus principais componentes são ácido hialurônico e proteoglicanos. O primeiro  trata-se de uma substância viscosa que lubrifica a trama protéica de colágeno e elastina bem como as fibras musculares possibilitando o deslizamento entre elas. Já os proteoglicanos formam um gel com capacidade hidrófila absorvendo as forças compressivas de movimento. 

O líquido lacunar conhecido como “linfa intersticial” possui grande atividade metabólica com muitas células nutritivas e macrófagas permitindo funções de nutrição celular e eliminação.     

Divisões do tecido conjuntivo

A constituição do tecido conjuntivo será sempre a mesma, o que irá diferenciar  o tecido conjuntivo frouxo do tecido conjuntivo  denso é a predominância de um dos componentes, ou seja, o tecido conjuntivo frouxo é caracterizado por não apresentar predominância entre os feixes  de colágeno e elastina sendo um tecido mais delicado e flexível, ou seja, com mais mobilidade,  já o tecido conjuntivo denso apresenta predominância dos feixes de colágenos sendo mais rígido e menos flexível proporcionando ao tecido grande resistência às tensões impostas. 

Obs: em relação ao espaço lacunar, quanto menos feixes de colágeno o tecido apresentar (tecido conjuntivo frouxo)  maior será o  espaço lacunar  e consequente maior a quantidade de líquido lacunar (conhecido como ” linfa intersticial”) permitindo  grande atividade metabólica por possuir uma quantidade significativa de células nutritivas e macrófogas favorecendo assim  as funções de nutrição celular e eliminação. Ao contrário, quanto mais feixes de colágeno (tecido conjuntivo denso), menor será o espaço lacunar e consequentemente a quantidade de líquido lacunar, com menor função nutritiva.        

Por apresentarem diferenças na consistência possuem também diferentes funções e localizações. O tecido conjuntivo frouxo localiza-se abaixo da derme, mucosas e membranas que revestem as vísceras e possui principal função de nutrição dos tecidos. O tecido conjuntivo denso possui principal função de resistir às tensões impostas sobre os tecidos devido sua grande resistência em função da predominância dos feixes de colágeno, sendo dividido em tecido conjuntivo denso modelado (ligamentos, tendões e cápsulas) apresenta os feixes de colágeno seguindo uma direção fixa devido a tensões exercidas em um determinado sentido e tecido conjuntivo denso não modelado (fáscia) apresenta uma  trama tridimensional que oferece ao tecido resistência às tensões exercidas em qualquer direção.  

“ As aponeuroses, tendões, cápsulas e ligamentos são um mesmo sistema mecânico englobado no vocábulo fáscia. Apenas os nomes mudam de acordo com a função e textura” (Bienfait 1999)

Obs: para compreender a intimidade da fáscia com o tecido muscular e suas relações com o movimento precisamos entender que cada fibra muscular é envolvida por tecido conjuntivo fibroso (perimísio, epimísio e endomísio) e que ao aproximar -se das extremidades esse tecido conjuntivo fibroso se “esvazia” de fibra muscular formando os tendões, isso mostra que qualquer contração muscular mesmo que ative pequenas unidades motoras irá transmitir tensão ao tendão e levar informação para os mecanorreceptores, principalmente ao órgão tendinoso de golgi. 

O sistema fascial é ricamente inervado pelos  mecanorreceptores: terminações de Rufini,   terminações de Pacini,  nociceptores,  fuso neuromuscular e  órgão tendinoso de Golgi. 

Divisões da Fáscia 

Fáscia superficial: formada por tecido conjuntivo frouxo e localizada abaixo da derme é o tecido no qual se pode atribuir a mobilidade característica da pele; 

– Fáscia profunda: formada por tecido conjuntivo denso e localizada diretamente abaixo da fáscia superficial envolve e separa os músculos compartimentalizando o corpo e contribuindo para o contorno e função do mesmo;  

– Fáscia suberosa: é a mais profunda, formada por tecido conjuntivo frouxo e localiza-se envolvendo as cavidades do corpo e vísceras permitindo a mobilidade e sustentação das mesmas.   

                                                                                                                        “A fáscia é continua de região para região e reveste totalmente todos os outros elementos do corpo, as várias porções de fáscia recebem nomes específicos mas a fáscia é toda continua.”   (GREENMAN, 2001)

Características gerais da fáscia: 

  • oferece extensa conexão muscular;
  • revestimento, proteção e inserção muscular;
  • absorve as forças compressivas de movimento;
  • cicatrização tecidual;
  • nutrição; 
  • Ajuda na economia circulatória, especialmente nos fluidos venoso e linfático;
  •  É ricamente dotada de terminações nervosas;
  • Está essencialmente  envolvida em todos os aspectos do movimento e equilíbrio postural do corpo. 

(Chaitow, 2001)   

Densificação  do tecido conjuntivo: 

Segundo Bienfait (1999) o tecido conjuntivo tende a uma densificação (rigidez) pois o colágeno é uma proteína instável que modifica-se ao longo da vida renovando-se com mais frequência que a elastina, sendo o tensionamento nos tecidos o fator excitante para a secreção do colágeno.

    “ O envelhecimento do homem é uma densificação progressiva do seu tecido conjuntivo.” (Bienfait, 1999) 

Restrição Fascial   

A mudança fascial precede muitas doenças crônicas e degenerativas”(Chaitow, 2001)   

“ As restrições fasciais começam a puxar o corpo para fora de seu alinhamento tridimensional em relação ao eixo vertical da gravidade, levando a movimentos e posturas com alta demanda de energia e biomecanicamente ineficiente.  Se a fáscia estiver restrita na hora do trauma, as forças não poderão ser dispersadas apropriadamente e então áreas do corpo estarão sujeitas a um impacto tolerável”.  (GREENMAN, 2001)

REFERÊNCIAS 

 •BIENFAIT, M. Fáscias e Pompages. São Paulo: Summus, 1999.

•CHAITOW, L. Técnicas de Energia Muscular. São Paulo: Manole, 2001.

•CHAITOW, L. Técnicas Neuromuscular Posicionamento de alívio da dor. São Paulo: Manole, 2001.

•GREENMAN, P. E. Princípios da medicina manual. 2ª edição. São Paulo: 2001.

•HAMMER, W.I. Exame Funcional dos Tecidos Moles e Tratamento por Métodos Manuais. Rio se Janeiro. Guanabara Koogan, 2003.