Introdução:
A hematose ou respiração celular é o processo de troca gasosa que ocorre por difusão de gases (oxigênio e gás carbônico) na membrana alvéolo capilar na unidade respiratória. Todo processo de troca ou respiração tem como pré condição o processo de ventilação (inspiração e expiração), responsável pela renovação do ar que chega aos alvéolos e, desta forma, manter uma diferença de pressão adequada para a troca.
Além da pré condição para a respiração celular que é a ventilação, o processo de difusão ou hematose ainda possui alguns fatores determinantes, que são: https://youtu.be/lHvC46fF0Cs (vídeo aula – Hematose)
- Diferença e pressão de gases entre os diferentes lados da membrana alvéolo capilar (pO2 e pCO2)
- Permeabilidade de membrana adequada para difusão gasosa
- Contato físico alvéolo-capilar
Desta forma, para que se cumpram os determinantes de troca gasosa citados acima, parte do ar que acessa o sistema respiratório durante o processo de inspiração precisa chegar na área de troca, já que outra parte permanece na porção de condução ou espaço morto anatômico. Assim, para que o ar chegue aos alvéolos e os mesmos sejam insuflados, a pressão alveolar precisa estar baixa e a resistência à expansão alveolar também. É nesse sentido que atua o liquido denominado “surfactante pulmonar”.
Tensão Superficial:
Como o ambiente ou área de troca é um ambiente húmido, uma vez que o interstício dos ácinos (conjuntos de alvéolos) é formado por líquido extra celular, composto quase todo por água, os alvéolos acabam sofrendo uma resistência do meio ao seu processo de expansão, necessitando de uma pressão de ar para sua adequada insuflação. Essa resistência do meio ao processo de expansão alveolar é denominado “tensão superficial”, e mensurada em mN/m.
Quando pensamos em tensão superficial exercida pela água, seus valores aproximados a nível alveolar são de 70 mN/m. Com esses valores, a resistência para a abertura dos alvéolos é muito alta, o que dificulta ou impossibilita sua expansão / insuflação, condição primordial para o processo de hematose.
Surfactante Pulmonar:
Como a tensão superficial da água é alta e dificulta ou impossibilita a abertura dos alvéolos e consequente processo de hematose, no meio intersticial alveolar há a presença de um líquido denominado surfactante pulmonar. Esse líquido é uma mistura lipoproteica com propriedades tensoativas e produzido por células denominadas Pneumócitos II. As proteínas e lipídios desta mistura reduzem a tensão superficial na interface entre o líquido presente na cavidade alveolar e o ar, atuando, de forma análoga, como um detergente na água, facilitando o processo de expansão pulmonar.
Pneumócitos:
São células produzidas pelo epitélio alveolar. Até aproximadamente a 24 e 26 semanas gestacionais, esse epitélio alveolar produz uma célula denominada Pneumócito I. Esses Pneumócitos I, após esse período, começam a ser convertidos em Pneumócitos do tipo II, e esses, por sua vez, possuem a capacidade de secretar o líquido surfactante pulmonar, que vai atuar na área de troca com as seguintes funções:
- Aumentar a complacência pulmonar e consequentemente diminuir o esforço respiratório.
- Evitar atelectasias (colapso do parênquima pulmonar) no fim da expiração.
- Facilitar o recrutamento do parênquima colapsado.
Na presença do surfactante pulmonar, a tensão superficial sobre os alvéolos reduz consideravelmente, facilitando a entrada de ar e dando as condições necessárias para o processo de hematose.
Composição do surfactante pulmonar:
- Aproximadamente 40% de dipalmitoil fosfatidilcolina
- Aproximadamente 40% de fosfolipídeos (PC)
- Aproximadamente 5% de proteínas
- Colesterol (lipídeos neutros)
- Traços de outras substâncias.