Introdução:

Ao estudarmos a formação embriológica do sistema nervoso, aprendemos que o mesmo tem origem no tubo neural, que posteriormente, a medida em que vai se desenvolvendo, vai se diferenciando até formar os tecidos que darão inicialmente origem ao encéfalo (porção craniana) e medula espinhal (porção podálica) do sistema nervoso central.

Antes de se diferenciar nas estruturas encefálicas conhecidas no adulto, o encéfalo é subdividido inicialmente em três porções principais:

  • Prosencéfalo
  • Mesencéfalo
  • Rombencéfalo

Posteriormente, como pode ser observado na imagem acima, o prosencéfalo se subdivide em telencéfalo e diencéfalo, enquanto o mesencéfalo segue sem se subdividir e o rombencéfalo se subdivide dando origem ao metencéfalo e ao mielencéfalo. A partir de então, essas estruturas passam a se diferenciar formando as divisões que conhecemos como estruturais do sistema nervoso, com a formação e maturação das estruturas encefálicas.

Telencéfalo:

Quando estudamos o telencéfalo, na verdade, estamos estudando as estruturas cerebrais, já que o mesmo é o tecido que dá origem ao cérebro, tendo nomenclatura diferenciada apenas por um fazer parte da divisão embriológica do sistema nervoso (telencéfalo) enquanto o outro faz parte da divisão estrutural do sistema nervoso (cérebro).

Fonte: NETTER, Frank H.. Atlas de Anatomia Humana. 2ed. Porto Alegre: Artmed, 2000.

Como pode ser visto na imagem acima, onde temos uma vista superior do telencéfalo, podemos observar que o mesmo é dividido em dois hemisférios cerebrais homólogos morfologicamente, separados entre si pela fissura longitudinal e com alguns pontos de comunicação entre os hemisférios, formados por fibras transversais denominadas:

  • Corpo caloso
  • Comissura anterior
  • Comissura posterior

Corpo caloso:

Fonte: NETTER, Frank H.. Atlas de Anatomia Humana. 2ed. Porto Alegre: Artmed, 2000.

Como pode ser observado na imagem acima, onde aparece o telencéfalo direito em vista medial, o corpo caloso pode ser dividido em anatomicamente em algumas porções:

  • Joelho do corpo caloso
  • Corpo do corpo caloso
  • Esplênio do corpo caloso
  • Fórnix do corpo caloso

Entre o corpo caloso e o fórnix ainda se estende uma membrana delgada, denominada septo pelúcido, e que faz a divisão entre os ventrículos laterais direito e esquerdo, onde é secretado o líquido cérebro raquidiano (liquor) pelos plexos coróides e por onde o mesmo também circula.

Lobos cerebrais:

Cada hemisfério cerebral é subdividido anatomicamente em porções denominadas lobos cerebrais. Desta forma, em cada hemisfério podemos encontrar cinco lobos cerebrais principais, denominados:

Fonte: NETTER, Frank H.. Atlas de Anatomia Humana. 2ed. Porto Alegre: Artmed, 2000.
  • Lobo frontal: localizado anteriormente e relacionado com as funções motoras, comportamentais e cognitivas do indivíduo;
  • Lobo parietal: Localizado superiormente e relacionado com as funções somatosensoriais além das percepções espaço temporais;
  • Lobo occipital: Localizado posteriormente e o grande responsável pela sensibilidade visual;
  • Lobo temporal: Localizado lateralmente e responsável pela audição, estando intimamente ligado as áreas sensitiva e motora da fala (área de Wernicke e área de Broca, respectivamente);
  • Lobo límbico: representado anatomicamente pela ínsula, trata-se de um lobo interno e relacionado com as emoções.
Fonte: NETTER, Frank H.. Atlas de Anatomia Humana. 2ed. Porto Alegre: Artmed, 2000.

Sulcos e giros cerebrais:

Estudando a parte externa do cérebro ou telencéfalo, podemos perceber que a mesma além de ser composta por grande áreas denominadas lobos, cada lobo ainda é composto por pequenas proeminências denominadas giros cerebrais e pequenas depressões denominadas sulcos cerebrais. A grande função dos sulcos e giros cerebrais é manter uma área cortical grande, maior do que o diâmetro, permitindo, desta forma, um pleno funcionamento, uma vez que a porção externa do cérebro é composta por substância cinzenta.

As áreas corticais específicas podem ser relacionadas a giros cerebrais específicos. Desta forma, é de extrema importância o conhecimento dos principais sulcos e giros cerebrais correlacionando com suas respectivas funções sensitivas, motoras ou integrativas.

Fonte: NETTER, Frank H.. Atlas de Anatomia Humana. 2ed. Porto Alegre: Artmed, 2000.

Como pode se observado na imagem acima, onde vemos o hemisfério cerebral esquerdo em vista lateral, os dois grandes sulcos cerebrais são os sulcos central e o sulco lateral ou de Sylvius. O sulco central está interposto entre os lobos parietal, posteriormente, e o lobo frontal, anteriormente. Nesta região encontramos duas áreas corticais extremamente importantes, denominadas:

  • Giro pré-central: localizado no lobo frontal posteriormente, é conhecido como área motora primária ou área 4 de Broadmann, que representa o ponto de partida ou ponto gatilho das informações motoras;
  • Giro pós central: localizado anteriormente no lobo parietal, é conhecido como área somatosensorial, pois é a área cortical onde chegam todas as informações somestésicas vindas do corpo, como tato, dor, temperatura, entre outras.

Além desses dois grandes sulcos, ainda encontramos um sulco posteriormente em sentido coronal e que faz a interseção entre os lobos parietal e o lobo occipital, denominado sulco parieto-occipital.

Fonte: NETTER, Frank H.. Atlas de Anatomia Humana. 2ed. Porto Alegre: Artmed, 2000.

No telencéfalo ainda podemos encontrar três pólos, denominados polo frontal, polo occipital e polo temporal, que são respectivamente áreas comportamental, visual e auditiva, conforme pode ser observado na imagem a seguir.

Fonte: NETTER, Frank H.. Atlas de Anatomia Humana. 2ed. Porto Alegre: Artmed, 2000.

Na imagem abaixo, podemos observar uma vista lateral do telencéfalo subdividido em seus principais sulcos e giros que podem ser observados externa e lateralmente:

Fonte: NETTER, Frank H.. Atlas de Anatomia Humana. 2ed. Porto Alegre: Artmed, 2000.

Lobo frontal e áreas corticais:

O lobo frontal é dividido em quatro lobos principais, conforme pode ser observado na imagem abaixo, e onde são desenvolvidas as funções comportamentais, cognitivas e motoras.

Fonte: NETTER, Frank H.. Atlas de Anatomia Humana. 2ed. Porto Alegre: Artmed, 2000.

No giro pré-central encontramos o que chamamos de área motora primária, já citada aqui anteriormente. O giro frontal inferior é onde localizamos a área de Broca, que corresponde à área motora da fala. Já o giro frontal médio é a área responsável pela cognição e inteligências, enquanto no giro frontal superior encontramos anteriormente a área comportamental e mais superior e posteriormente ás áreas motoras secundária e suplementar, que corresponde à áreas relacionadas respectivamente à memória motora e ao planejamento motor.

Lobo temporal e áreas corticais:

Fonte: NETTER, Frank H.. Atlas de Anatomia Humana. 2ed. Porto Alegre: Artmed, 2000.

O lobo temporal, localizado lateralmente e com seu polo localizado anteriormente, é dividido em três giros temporais (superior, médio e inferior) por dois sulcos temporais (superior e inferior). De forma mais superficial, o lobo temporal é o grande responsável pela audição. Desta forma, no giro temporal superior encontramos o que chamamos de área auditiva primária, responsável pela recepção de todos os estímulos auditivos, enquanto nos giros temporais médio e inferior encontramos as áreas auditivas secundárias, responsáveis pelas memórias auditivas (gnosia auditiva = capacidade de reconhecer e associar um estímulo auditivo à algo ou alguém).

Fonte: NETTER, Frank H.. Atlas de Anatomia Humana. 2ed. Porto Alegre: Artmed, 2000.

Lobo parietal e áreas corticais:

Fonte: NETTER, Frank H.. Atlas de Anatomia Humana. 2ed. Porto Alegre: Artmed, 2000.

O lobo parietal é o grande responsável pelas percepções corporais, tais como a propriocepção, além das percepções espaço temporais e somestésicas. Nele encontramos uma importante e conhecida área cortical denominada giro pós-central, conhecida como área somatosensorial ou área 6 de Broadmann, representado em vermelho na imagem acima. Essa área ó o ponto de recepção de todas as sensibilidades corporais somestésicas, tais como frio, calor, dor, pressão, tato, entre outras.

Na região assinalada em verde na imagem, encontramos o lóbulo parietal, superiormente, responsável pelas percepções espaço temporais, também conhecidas como propriocepção.

No giro supra marginal encontramos outra importante área cortical, denominada área de Wernicke, que corresponde à área sensitiva da fala. Essa área é responsável pelo planejamento do discurso, e por isso se localiza em uma região sensitiva estratégica entre os lobos parietal, occipital e temporal, que são relacionados respectivamente com as percepções corporais, visão e audição. Essas funções integrativas permitem um bom planejamento do discurso, que depois de planejado é repassado para execução na área de Broca no lobo frontal. Desta forma, existe um feixe de neurônios comunicando diretamente a área de Wernicke com a área de Broca, denominado feixe arqueado.

Lobo occipital e áreas corticais:

Fonte: NETTER, Frank H.. Atlas de Anatomia Humana. 2ed. Porto Alegre: Artmed, 2000.

O lobo occipital é o grande responsável pela visão. Nele encontramos o polo occipital, representado na imagem acima, responsável pela área visual primária, ou seja, onde chegam todos os estímulos visuais no córtex cerebral.

Em áreas marginais ao polo central, mais especificamente, marginais ao sulco calcarino, encontramos o que chamamos de áreas visuais secundárias, responsáveis pelas nossas memórias visuais (gnosia visual = capacidade de reconhecer algo ou alguém através de estímulos visuais).

Lobo límbico ou Ínsula:

Fonte: NETTER, Frank H.. Atlas de Anatomia Humana. 2ed. Porto Alegre: Artmed, 2000.

Como pode ser observado nas imagens da ínsula, a mesma representa uma área cortical interna, interposta entre os lobos frontal e temporal. Desta forma, para a visualização e estudo da mesma, é necessário abrir o sulco lateral ou sulco de Sylvius para expô-la.

A ínsula ou lobo límbico é responsável, juntamente com outras estruturas encefálicas como a amígdala do fórnix e o hipotálamo, pelo controle das emoções. A mesma representa então o córtex emocional, subdividido ainda anatomicamente em dois lobos principais, como pode ser notado na imagem abaixo.

Fonte: NETTER, Frank H.. Atlas de Anatomia Humana. 2ed. Porto Alegre: Artmed, 2000.

Conclusão:

Desta forma, como podemos notar, o telencéfalo ou cérebro é uma estrutura encefálica bastante complexa e responsável pela recepção dos estímulos sensitivos e elaboração de respostas motoras, além de todas as suas funções integrativas. Fazendo uma breve analogia, se o nosso sistema nervoso fosse um computador, o córtex do nosso telencéfalo representaria o processador dessa grande máquina.

Fonte: NETTER, Frank H.. Atlas de Anatomia Humana. 2ed. Porto Alegre: Artmed, 2000.