Introdução:
O nome “manguito rotador” é utilizado para denominar um grupo de músculos que, em conjunto, tem como grande função gerar estabilidade na articulação gleno-umeral ou escápulo-umeral.
Como é de conhecimento de todos, a articulação gleno-umeral é a principal articulação esférica do corpo humano, logo, a mais móvel. Como a mobilidade é inversamente proporcional a estabilidade, sabemos que a articulação gleno-umeral também é a mais instável. Desta forma, diferente de outras articulações que depende exclusivamente de ligamentos estruturais para gerar estabilidade articular, a gleno-umeral depende também do que chamamos de ligamentos dinâmicos, que nada mais são do que músculos que cumprem função estabilizadora na articulação. A esse grupo de músculos damos o nome de manguito rotador.
Estabilização gleno-umeral
Quando pensamos em cintura escapular, temos três importantes grupos musculares com funções distintas, e que podem ser separados da seguinte forma:
- Músculos estabilizadores da gleno-umeral (manguito rotador)
- Músculos estabilizadores da escápula
- Músculos dinâmicos do ombro
Nesse post, abordamos os músculos estabilizadores da gleno-umeral. Mas quem são eles?
É fácil responder essa pergunta sem precisar simplesmente decorar nomes e funções musculares. Devemos levar em consideração as estruturas que compõem essa importante articulação, que são a cabeça do úmero e a cavidade glenóide. Desta forma, podemos notar que os estabilizadores da gleno-umeral ou escápulo-umeral, são aqueles que sustentam a cabeça do úmero na cavidade glenóide, impedindo que a simples força da gravidade a retire de seu posicionamento normal, podendo levar a uma subluxação ou luxação de ombro.
Assim, notamos que os músculos do manguito rotador possuem origem na escápula e inserção no úmero, e, seu trajeto, de alguma maneira, “abraça” a cabeça do úmero gerando estabilidade na mesma em relação a cavidade glenóide.
Manguito rotador:
Conforme mencionado acima, podemos afirmar que os músculos do manguito rotador possuem relação direta com a articulação gleno-umeral no sentido de gerar estabilidade. A maioria dos autores consideram como componentes do manguito rotador, quatro importantes músculos da cintura escapular, conforme aparece no quadro abaixo:
Porém, como citado anteriormente, considera-se músculo estabilizador da gleno-umeral aqueles que possuem origem na escápula, inserção no úmero, e de alguma forma estabelecem função de estabilização da cabeça do úmero na cavidade glenóide devido ao seu trajeto. Desta forma, muito autores consideram também a porção longa do bíceps braquial ou cabeça longa do bíceps braquial como componente do manguito rotador, devido ao trajeto de suas fibras musculares.
Lesões mais comuns no manguito rotador:
As lesões mais frequentes no manguito rotador são as tendinites (inflamações nos tendões) e as bursites (inflamações nas bursas dos tendões). Normalmente esses tipos de lesão surgem por excesso de movimentos repetitivos de um mesmo músculo, associado a alguma alteração no trajeto do músculo e que comprometa seu funcionamento adequado.
Desta forma, das lesões de manguito rotador, a mais frequente é a tendinite do supra espinhoso ou também, a bursite subacromial. Tal fato se deve ao pequeno espaço para a passagem do tendão do músculo supra espinhoso no espaço subacromial, e que, com movimentos repetitivos, pode gerar compressões e consequente lesão tecidual, gerando o processo inflamatório.
Outro fator que pode agravar ou tornar ainda mais frequente esse tipo de lesão está relacionado com o tipo de acrômio apresentado pelo indivíduo. Sabemos que morfologicamente, podemos apresentar três tipos de acrômio, que variam de acordo com o seu tamanho. Desta forma, quanto maior for o tamanho do acrômio, menor vai ser o espaço subacromial, tornando este tendão e esta bursa mais suscetível a lesões por compressão e consequente isquemia.
Outras lesões de manguito rotador:
São vários os fatores que podem estar envolvidos na síndrome do manguito rotador, relacionados as lesões dos músculos e estruturas envolvidas no complexo. Dentre eles, destacam-se os que podem ser mecânicos (movimentos repetitivos, má postura ou sobrecarga) ou biológicos, como o desgaste natural das articulações pelo envelhecimento ou ainda alterações na circulação da região.
Fatores mecânicos de lesão do manguito:
- Má postura (a posição de “ombros caídos” diminui o espaço entre os tendões, o que causa atrito entre eles e favorece o aparecimento de lesões)
- Falta de alongamento
- Lesão por carga (objetos muito pesados)
- Uso excessivo da articulação (em atividades laborais ou na prática esportiva)
- Lesões como fraturas, traumas ou luxações
Fatores biológicos de lesão do manguito:
- Envelhecimento (a idade naturalmente causa degeneração óssea e articular)
- Tabagismo (o hábito pode causar problemas de vascularização)
- Tendinites crônicas
- Influência genética
Embora muitos fatores possam estar envolvidos no aparecimento da inflamação do manguito rotador, uma das maiores causas, segundo especialistas, é o uso repetitivo da articulação, seja no uso de tablets e telefones celulares, ou ainda no trabalho que utilize muito a articulação gleno-umeral. Essas lesões normalmente se enquadram em lesões por esforços repetitivos, as LER ou DORT, que podem ou não estar relacionadas a atividade laboral do indivíduo.
Algumas profissões como a de professor, secretária do lar, diarista, carpinteiro ou pintor residencial, por exemplo, são bastante propícias para a tendinite na região do ombro, porque exigem muito da articulação e porque esses indivíduos costumam passar um bom tempo com a articulação em abdução acima de 90 graus, o que reduz significativamente o espaço subacromial, gerando compressão e isquemia do tendão do supra espinhoso.
A lesão também é comum em alguns atletas, sobretudo nos praticantes de tênis, arco e flecha, natação, basquete e vôlei, que precisam trabalhar frequentemente movimentos de circundução de ombro, além re repetirem o movimento exaustivamente.
Fora os fatores de risco listados, levar uma vida estressante também pode ser uma causa para a lesão. Isso porque o estresse pode levar a contratura muscular, o que, por sua vez, pode causar uma irritação, iniciando processo ou reação inflamatória na região do ombro.